Confiabilidade e Análise de Falhas

Processo, sem dúvidas, importantíssimo para a melhoria dos resultados, a Análise de Falhas é muitas vezes colocada "na prateleira errada" dentro do universo da Engenharia de Confiabilidade, ocupando um espaço que lhe confere um excesso de protagonismo, o que pode desviar o foco e embaralhar as prioridades.

Dimas Vinicius Miguel Araujo, Diretor Técnico da Veritate Engenharia

9/18/20234 min ler

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  Felizmente, nos últimos anos, temos visto um crescimento exponencial do interesse das organizações nos processos relacionados à Engenharia de Confiabilidade. Se, por um lado, o aumento da demanda expande as possibilidades e alimenta a produção tecnológica e científica em torno da disciplina, por outro pode colocar no cadinho ingredientes não tão consistentes, fomentando aqui e ali abordagens menos criteriosas. Isto é esperado e absolutamente natural num ambiente de franca expansão, como o deste assunto.

   Entretanto, cabe à qualquer profissional que deseja de fato desenvolver um trabalho sério dentro do universo da Confiabilidade - o que configura a maioria, felizmente - manter as coisas bem ordenadas, para conseguir retirar das metodologias e ferramentas tudo o que elas podem dar pra entregar o impacto positivo nos resultados. Aqui nunca é demais voltar aos conceitos, que ditos com simplicidade, revelam para quê a coisa realmente serve.

   Vejamos, por exemplo, o próprio termo "confiabilidade": como define a NBR 5462, trata-se da "capacidade de um item desempenhar uma função requerida sob condições especificadas, durante um dado intervalo de tempo", ou seja, trata-se, stricto sensu, de uma probabilidade de não falha num período específico que, por óbvio, deve ser futuro. Não é nosso objetivo, aqui, explorar os aspectos probabilísticos do cálculo da confiabilidade, mas apontar como a compreensão do universo da Engenharia de Confiabilidade (lato sensu) precisa derivar do significado do termo (stricto sensu), ou seja, precisa ter o foco mais em melhorar os processos de hoje em diante do que resolver os problemas atuais ou "apagar os incêndios". Deste modo, trata-se um trabalho estratégico, não tático e muito menos operacional. Se não for assim, estamos falando de outra disciplina, mas não de Confiabilidade.

   É deste modo que o processo de Análise de Falhas precisa servir à Confiabilidade. Se a análise é de "falha", então pressupõe a "falha", que é justamente o inverso do que pretende o empenho em confiabilidade. Logo, o que se pode concluir é que a análise de falha é um processo reativo dentro do universo da Confiabilidade! Trata-se de aprender com o erro para não tornar a cometê-lo. Esta mudança sutil de mentalidade é essencial para sair do lugar comum e começar um processo real de estabelecimento de uma Cultura de Confiabilidade, que quer dizer posicionar-se estrategicamente dentro da organização, trabalhar para abrir a estrada, e não para recapear o asfalto.

   Fizemos recentemente uma enquete na página da Veritate Engenharia no LinkedIn que confirmou (ao menos no restrito universo dos respondentes) algo que a experiência já nos apontava: ao ser questionado qual termo representava o que lhe vinha primeiro à cabeça quando ouvia o termo "confiabilidade", 32% apontaram que era "análise de falha". O termo só ficou atrás de "disponibilidade", com 44% (12% responderam que era "plano de manutenção" e outros 12% que nenhum dos três termos).

   É evidente que o processo de análise de falhas é muitíssimo importante para a melhoria contínua dos resultados, mas não pode ser a principal entrega. Imagine se todo processo de combate ao crime se baseasse na investigação dos crimes já cometidos, e não no empenho para, antes, evitar que eles acontecessem? Veja, a investigação jamais poderá ser subestimada para a segurança pública, mas se em nossas delegacias trabalhassem apenas investigadores, imagino que o saldo final não seria lá muito vantajoso! Então, se o seu time de confiabilidade é, na verdade, um time de análise de falhas, preciso te dizer a verdade: você não tem um time de confiabilidade!

   Envolvido nas pressões de dar respostas às perdas recentes, em dar remédio às dores que estão doendo no momento, dificilmente o time de confiabilidade poderá pensar estrategicamente. Quem está, ou já esteve, no dia-a-dia da indústria sabe bem: o redemoinho da rotina nos engole sem dó! Quando o plantão chama no rádio pra um QRU daqueles, a tentação de por o capacete e ir no pé do problema vai ser enorme quando sabemos que no dia seguinte o rojão estará, aceso, na nossa mesa! E, veja, não está errado... Alguém precisa mesmo fazer isto, mas não é esta responsabilidade que deve estar nos ombros do time de Confiabilidade.

   Por isso, sim, o processo de análise de falhas faz parte do universo de confiabilidade, mas está longe de estar entre as suas principais entregas. É, antes, um "mal necessário"... O bem é não ter falhas para analisar e, se não perseguirmos este ideal (que é, na prática, impossível, por isso "ideal"), não estamos ainda, de fato, comprometidos com o estabelecimento do um modo de pensar com confiabilidade, com a Cultura de Confiabilidade. Há formas de fazer isto, e é justamente aqui que a Veritate Engenharia espera contribuir com seus clientes!

Nós fazemos de Verdade!

Resultado da enquete feita na página do LinkedIn da Veritate Engenharia. Fonte: Veritate Engenharia